quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Reportagem na RTP sobre o trabalho das Doulas

Aqui fica uma reportagem sobre o nosso trabalho, passada na RTP. Espero que gostem...

http://www.youtube.com/watch?v=buWOlpLgUGs

sábado, 10 de outubro de 2009

"Quero dormir!".... e a Amamentação


"Era uma vez uma mãe. Com um sorriso de felicidade nos lábios por ter o seu bebé nos braços.... e com olheiras fundas e os nervos à flor da pele por ter poucas horas de sono!"


Quantas vezes já vimos materializada esta história nos lugares por onde andamos? E a culpa, geralmente, é sempre atribuída à amamentação.

A minha mentora no fantástico mundo da amamentação disse um dia, em tom de brincadeira, que os bebés nascem muito "mal educados". Não podia ter mais razão. De facto, não têm a menor noção do que é socialmente aceitável: choram com a sala cheia de visitas, sujam as roupas nos momentos mais inoportunos, querem comer a toda a hora e acordam a vizinhança à noite... querem comer, comer, comer... e nós queremos DORMIR!!!

Vamos então analisar esta questão.

Quando nascem, os bebés não conseguem diferenciar o dia da noite.

... mas sabem muito bem perceber quando precisam ou não de comer e beber (porque o leite materno também serve para saciar a sede).

Se nós (seres civilizados) conseguimos aceitar que um bebé (ser selvagem) nos suje a roupa com chichi, cocó ou bolsado...

... então, talvez possamos também aceitar que ele tenha fome e precise comer a horas improprias.

Os bebés precisam mamar de dia... mas também precisam mamar de noite

Até porque mamar à noite é muito importante para a manutenção da amamentação, pois é durante a noite que a prolactina (hormona responsável pela produção de leite) tem um pico de produção.

Assim, mamar à noite, quando o leite tem uma produção máxima, vai reforçar positivamente o processo: quanto mais o bebé mama e com intervalos mais curtos, mais leite a mama produz.

... mas a mãe precisa dormir, se não também pode prejudicar o equilíbrio bioquímico que controla a produção de leite.

Então, porquê não colocar o bebé a dormir com ela?

Já sei que devem estar com uma ou duas perguntas prontas para saltar.... "Então e a segurança?" "E se eu esmago o bebé?"

No que se refere à segurança, deixem que devolva a pergunta de outra forma; "E se, ao dar de mamar ao bebé sentada numa cadeira, adormecer e o deixar cair?". Acham que não é possível? Eu já ouvi um ou dois casos assim, de mães que davam leite artificial, felizmente sem consequências graves.
Mas quando sugiro que durmam com o bebé, não sugiro que o façam de qualquer maneira. Claro que existem algumas regras: a cama não pode ter edredons (pois aquecem muito), o bebé tem de estar no meio dos pais ou ter uma barreira que impeça a sua queda, e nenhum dos pais pode estar alcoolizado ou sobre o efeito de drogas que alterem o estado de consciência.
Chamamos a isto o co-sleeping, que tem muitos outros benefícios para além da promoção de uma amamentação nocturna confortável, mas que ultrapassam os objectivos deste artigo. (Veja o link se quiser saber mais http://www.cosleeping.org/).

Se seguirmos estas regras, nenhum dos pais esmaga o bebé, já que se cria uma forma de comunicação corporal muito subtil entre todos os elementos (mãe-bebé-pai), apesar de todos estarem a dormir.

Dormir com os bebés na cama é uma experiência fantástica. O bebé mama como quer, quando quer, sem chorar... e nós nem acordamos! Só temos uma ligeira "chamada" da mente ao corpo, que nos faz moldar ao bebé, e pronto... continuamos a sonhar... Adeus olheiras!
Mas consigo perceber que nem todas as mulheres e homens (porque também é importante que o pai se sinta confortável com esta opção) vejam esta como uma solução para si. Nesse caso, não desespere, existem outras possibilidades:

colocar a cama de grades (sem rodas) bem do lado da mãe, na cama do casal, de forma a ser apenas necessário baixar a grade para conseguir retirar o bebé e deitá-lo ao seu lado para o amamentar

ter a cama de grades ao lado da cama, sendo apenas necessário levantar-se para buscar o bebé e deita-lo na cama para o amamentar

... enquanto o bebé mama, a mãe faz uma soneca!

O que NUNCA deve fazer:

colocar o bebé a dormir noutro quarto (ainda que tenha inter-comunicadores)

dar de mamar sentada e cheia de sono

dar de mamar deitada num sofá ou numa cama sem barreira a proteger o bebé de uma queda

usar o leite artificial (para além de prejudicar a saúde do seu bebé, o tiro pode sair-lhe pela culatra, já que não é garantia de mais horas de sono... um bebé com cólicas é bem mais difícil de consolar que um bebé com fome!)

E não esqueça que tudo na vida é uma questão de tempo. Se respeitarmos o tempo do bebé, rapidamente virá o tempo em que ele será mais "educado" e dormirá mais horas durante a noite.


Boas mamadas e bons sonhos!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Filosofia das Doulas de Portugal


A Associação Doulas de Portugal é uma organização de doulas portuguesas com o objectivo de promover e divulgar o papel da doula no acompanhamento perinatal em Portugal, como uma frente de acção na humanização do parto e nascimento em Portugal. As doulas ajudam as mulheres e seus companheiros a viverem experiências de parto e pós-parto saudáveis, seguras, satisfatórias e enriquecedoras.
Acreditamos na capacidade inata de parir das mulheres e reconhecemos o parto como um evento natural e fisiológico, que faz parte da sexualidade feminina e cujo impacto na identidade e bem-estar integral da mulher não pode ser negligenciado. O parto e o nascimento são um ritual de passagem, uma celebração, e a mulher deve ser especialmente honrada e acarinhada nesse momento sagrado.
Acreditamos que todas as mulheres devem ter a oportunidade de ter os serviços de uma doula, independentemente da região onde vivem e do seu estrato sócio-cultural-económico.
Desde tempos remotos, o parto sempre foi um evento do universo feminino, acompanhado por mulheres mais velhas, familiares ou amigas, que embora sem treino profissional, possuíam experiência de vida, e que ofereciam apoio e encorajamento no período à volta do nascimento. Do mesmo modo, o apoio da doula vem antes de mais do coração e sabedoria individual de cada mulher.
Acreditamos que a mulher deve ser a protagonista do seu próprio parto e que nesse princípio assenta a humanização do nascimento.
O apoio da doula é essencialmente emocional, visando o bem-estar e o conforto das mães e suas famílias. Antes, durante e após o parto, é sobretudo a presença tranquila e confiante da doula que fará a mãe sentir-se segura. A doula ajuda a mulher a encontrar dentro de si o poder de conduzir o nascimento dos seus filhos, promovendo a confiança na sua sabedoria interior e visando a protecção da memória emocional da experiência do parto e pós-parto.
Potencialmente, qualquer mulher, com treino específico ou não, pode dar apoio durante a gravidez, o parto e período pós-natal. O seu desempenho depende da sua maturidade pessoal, conhecimentos e visão única da gravidez, parto e maternidade. A principal ferramenta que a doula tem é ela própria!
Reconhecemos que ser doula será mais fácil para as mulheres que têm experiência de maternidade, amamentação e cuidados com bebés, mas sabemos também que existem mulheres que, não tendo essa experiência, podem ser excelentes doulas. Defendemos que a mãe possa sempre escolher a doula com quem se sente mais confortável.
Acreditamos que o papel da doula é um modo de “estar” e não de “fazer”. A formação enquanto doula é sobretudo um percurso pessoal e não se pode pensar que a frequência de um curso de alguns dias transforme uma mulher numa doula. As doulas estão num processo permanente de aprendizagem, descoberta e partilha. Só com uma postura aberta ao desenvolvimento pessoal e crescimento humano é possível estar disponível para ajudar os outros. No processo de formação de uma doula tem que existir uma profunda concentração na consciência de si própria e hábitos de reflexão.
A doula é uma figura maternal de protecção que está ao lado de outra mãe para a ouvir, proteger, apoiar e responder às suas necessidades. Por isso se diz que a doula é uma “mãe para a mãe”. A doula não vem substituir o pai, parceiro ou qualquer outro familiar ou profissional do cenário de parto. As acções da doula nunca são conduzidas pelo seu ego mas sim pela sua sensibilidade e amor incondicional.
As doulas não executam qualquer acto médico nem fazem aconselhamento médico, mas deverão ter bons conhecimentos da fisiologia do parto e do período pós-natal de forma a que possam oferecer apoio e orientação no sentido de ajudar a mulher a encontrar as melhores soluções para o seu caso.
Ser doula é um trabalho de paixão. Não pretendemos ser apenas mais um “profissional” a sobrecarregar o cenário de parto já de si muito profissionalizado. Existem tantas doulas diferentes quanto existem mulheres. Esperamos que cada mulher possa encontrar a sua doula como quem encontra uma grande amiga. Para a doula será sempre um privilégio poder partilhar com ela o milagre de mais um nascimento.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mês Internacional da Doula



Em Maio celebra-se internacionalmente o mês da Doula.

O que é uma Doula?
Uma doula é uma mulher que dá suporte físico, emocional e informativo a outras mulheres antes, durante e após o parto. Segundo a Organização Mundial de Saúde, no seu guia "Assistência ao Parto Normal: um guia prático", uma doula é "(...) uma prestadora de serviços que recebeu formação básica sobre o parto e que está familiarizada com uma ampla variedade de procedimentos de assistência. Fornece apoio emocional, o qual consiste em elogios, reafirmação, medidas para aumentar o conforto materno, contacto físico (... ) explicações sobre o que está a acontecer durante o trabalho de parto e uma presença amiga constante."

Porquê ter uma Doula?

  • Porque geralmente os partos com o apoio de uma doula são mais rápidos e menos complicados.
  • Porque a doula ajuda a que a mulher sinta o parto como uma experiência positiva (e essa experiência terá repercurssões no futuro).
  • Porque os pais que podem contar com o apoio de uma doula sentem-se mais confiantes e acarinhados.
  • Porque a doula também ajuda os pais a adaptarem-se às exigencias desta nova etapa das suas vidas.
  • Porque uma doula ajuda com a amamentação e quem conta com o seu apoio tem maiores probabilidades de vir a ter uma amamentação de sucesso.
  • Porque as mulheres que contam com uma doula têm menos probabilidades de vir a sofrer depressões pós-parto.
  • Porque a doula é uma pessoa com quem se pode contar 24 horas por dia para todo o tipo de dúvidas e desabafos.
  • Porque no meio do "desconhecido" do parto a doula vai ser uma mão amiga que saberá tranquilizar a futura mãe e o seu companheiroPorque a doula além de ajudar a mãe, dará apoio ao acompanhante relativamente às formas que este poderá encontrar para ajudar e apoiar a futura mãe.
  • Porque a doula tem conhecimentos suficientes e actualizados para explicar aos pais todas as alternativas ao seu dispor e ajudá-los a elaborar um plano de parto
  • Porque a doula recebeu formação e sabe o que a mulher precisa durante o parto, sabe aplicar técnicas no alívio da dor, conhece posições que facilitam o progresso do trabalho de parto.
  • Concluiu-se que as mamãs acompanhadas por uma mulher que lhe prestasse ajuda emocional e física durante todo o trabalho de parto tinham resultados surpreendentemente melhores, reduzindo:

- 50% de cesarianas

- 25% do tempo de trabalho de parto

- 30% do recurso aos fórceps

- 40% do recurso à oxitocina

- 60% do uso de epidural

- 30% do recurso a analgésicos

- Problemas na amamentação

- Incidência de depressão pós-parto[1]

  • - Porque até a própria Organização Mundial de Saúde[2] se refere de forma bastante favorável ao acompanhamento das doulas no trabalho de parto, referindo que a sua presença oferece "muitos benefícios, incluíndo partos mais rápidos, com menos medicação e uso de epidural, menos índices de apgar abaixo de 7 nos recém-nascidos e menos partos instrumentalizados"[3].
  • Porque a doula é alguém com quem se pode contar para ajudar depois do parto, mesmo com pequenos gestos como preparar uma refeição reconfortante para a mãe enquanto esta descansa com o seu bebé.

[1] segundo um estudo de 1993 por Kennel e Klaus, autores do livro "The Doula Book: How a trained Labour Companion Can Help You Have a Shorter, Easier and Healthier Birth"

[2] "Safe Motherhood, Care in Normal Birth: a Practical Guide", World Health Organization, Geneva - WHO/FRH/MSM/96.24

[3] ref. a Klaus et al 1986, Hodnett and Osborn 1989, Hemminki et al 1990, Hotmeyer et al 1991